domingo, 17 de novembro de 2013

Memórias de uma Moça Bem-Comportada

Passei minha vida sendo uma moça bem educada, que prende o choro pra não precisar alugar o ouvido alheio com problemas desinteressantes, que evita se meter em assunto de terceiros se não for convidada, que faz o máximo possível para respeitar e não invadir o espaço dos outros, não respondo meus pais, não arrumo briga na rua, nunca passei noite fora sem avisar, nunca trouxe pra dentro de casa amigos ou namorados procurados pela polícia, eu mesma nunca fui abordada pela polícia na rua e morro de medo de confusão.
Sempre fiz o possível para seguir as regras, respeitar os mais velhos e ser bem vista por onde passei.
Minha cabeça sempre repousou tranquila e leve no travesseiro.
Não sou perfeita, nunca pretendi ser, mas dentro dos deslizes que sei que cometi na vida, nunca fiz nada realmente digno de um parágrafo na biografia da minha vida.
Acho que sou uma pessoa até chata de se conhecer, porque não tenho grandes histórias pra contar, não tenho várias lembranças divertidas de coisas que aprontei, de flagras que me deram pulando um muro, roubando um carro ou acordando nua ao lado de um estranho numa casa que não sei de quem é.
Namoros tive poucos e, de realmente significativo e duradouro, só um.
Não tenho um diploma universitário, mas não foi por falta de tentar: larguei a faculdade quase no final porque passei em um concurso público estadual, que me garante um emprego estável e contas pagas no quinto dia útil de cada mês. Não havia escolha. Ou eu terminava o curso e continuava desempregada até sabe Deus quando ou eu assumia o cargo e largava a faculdade pra depois. Pensei racionalmente e escolhi o emprego.
Eu quase sempre penso racionalmente.
São 27 anos, 6 meses e 17 dias pensando racionalmente, agindo com responsabilidade e colocando o bem estar das pessoas à minha volta antes do meu bem estar, evitando, assim, falar desaforos, responder de forma justa, dar na cara e cuspir em pessoas que nem sempre respeitam minhas decisões, minhas opiniões, meus desejos e meu espaço.
Tudo isso para, um belo dia (hoje) eu me dar conta que não valeu merda nenhuma, que eu devia ter feito valer minhas opiniões em todos os minutos que alguém questionou o que eu queria. Eu devia ter batido portas, devia ter gritado, devia ter ficado com fama de louca, de mal educada. Eu devia ter agido como sempre agiram comigo.
Eu devia ter cuidado da minha vida como sempre cuidei, mas errei por não fazer isso deixando claro que a vida é, sempre foi e sempre será minha.

***
Trilha Sonora: Epitáfio - Titãs. Mentalmente tocando aqui desde que comecei o último parágrafo.

3 comentários:

Douglas disse...

Vc é uma pessoa de caráter indiscutivel, disso n tenha dúvidas.
Mas por sempre pensar nos outros, e no que irao pensar de vc, vc acabou deixando que pisem em cima das suas opinioes.

Saiba que pra mim, elas sao importantes, sim. E eu vou te apoiar sempre [aprendi isso]


Estarei sempre aqui, saiba disso.

(nao sei aonde ficam os acentos aqui nesse notebook, heh)

XD disse...

Ainda tem muito tempo fazer diferbente! ;)

Darshany L. disse...

às vezes passo pelas mesmas reflexões.