domingo, 15 de dezembro de 2013

Melhor Que a Original - Parte 3

Ressuscitando uma série esquecida aqui do blog, mas sem o formato de lista.
Estou bem. Calma, gente! Não vou fazer em forma de lista simplesmente porque quero mostrar uma música só. Aliás, duas: a original e a versão.
Já falei aqui no blog ou postei um vídeo, não me lembro, da banda Columbia. PUTA BANDA BOA DO CARALHO! Entenderam a intensidade da minha recomendação? É uma banda com letras boas, uma vocalista linda com uma voz deliciosa, músicas gostosas de ouvir o dia todo, em quase qualquer situação. A maioria delas é meio melancólica, mas de uma beleza que raramente vemos hoje em dia.
Enfim, ouçam e confiem em mim, vocês vão gostar.
O caso é que eu baixei todas as músicas deles e no meio delas veio uma chamada "Eu Queria Ser John Lennon". Ouvi, gostei, aprendi a cantar, grudou na minha cabeça algumas vezes e passou. Fiquei um tempo sem ouvir e, outro dia, organizando as pastas de músicas aqui, fui ler os detalhes do arquivo e vi que a música faz parte de um álbum com regravações de músicas do Odair José.
Olha, pra quem não conhece, vou dizer uma coisa e é tudo o que sei dele (e me corrijam se eu estiver muito equivocada): é um cantor brega dos anos... sei lá... 60.
Fiquei cismada com aquilo. Será? Vai ver era só uma música escrita por eles em homenagem ao Odair José. Vai ver ele queria ser um John Lennon brasileiro, daí a homenagem.
Esqueci o assunto. Até que ouvi a música hoje e, com tempo livre, fui ao Google ver qualé quié, afinal.
Achei o seguinte vídeo:

Pois é. Eis um caso de letra linda sofrendo preconceito e sendo ignorada (por mim, pelo menos) só por causa da fama brega do compositor. Confesso que eu jamais teria a curiosidade de ouvir uma música dele só porque sim. Se não fosse essa regravação da Columbia, eu nunca teria conhecido essa música.
Aqui a versão "pop" para quem ficou curioso.

http://www.youtube.com/watch?v=rpO4Et4fd38
(tentei incorporar o vídeo do Youtube e o player do Grooveshark, mas o blog tá de sacanagem e não deixou. Vai só o link mesmo e vocês que cliquem e sejam felizes).

E, embora a letra seja linda de qualquer jeito, a regravação supera a original, na minha humilde opinião.
O que vocês acham?

sábado, 7 de dezembro de 2013

Links dos Últimos Dias #1

Passo muito tempo na internet. Trabalho usando internet (não trabalho COM internet, mas dependo dela funcionando pra fazer 90% do meu trabalho) e, entre uma coisa e outra, dou uma espiada nos sites de notícias, nos links que chegam por e-mail, nos feeds que assino, etc.
Tô sempre vendo coisas legais e antes, quando tinha o abençoado Google Reader, eu compartilhava lá e o gadget dele atualizava tudo ali no cantinho do blog. O coitado do Reader foi descontinuado pelo Google, fiquei órfã (junto com milhares de outros usuários) e desde então sinto uma necessidade enorme de compartilhar coisas com pessoas além do Facebook. Porque, convenhamos, muita coisa que a gente gostaria de compartilhar ali, acaba sendo deixada de lado pelo risco de fulano ver e não entender, de sei lá quem ver e se ofender, de beltrano não ver e o link ter sido compartilhado exatamente para que beltrano visse... Enfim, o Facebook tá cheio de gente que adicionamos por educação e, entre essas pessoas, algumas a gente realmente não quer que fiquem chateadas com a gente e ficar alternando de "post público" para "restritos" enche o (meu) saco. Daí o pensar duas vezes antes de compartilhar.
Aqui no blog é diferente. Como era no Reader, eu posto o que eu quiser, lê quem realmente quer ler e quem está habituado a vir aqui já deve imaginar mais ou menos o que esperar de mim, então não tem susto, não tem drama, não tem choro, não tem "desfazer amizade/reportar como spam/bloquear".
Certo? Certo.
Então, não sei ainda com qual frequência nem por quanto tempo, vou dividir com vocês os links que achei boiando por aí nesse mar sem fim que chamamos de internet.
Não são necessariamente links novos, porque muitas vezes eu salvo coisas no Favoritos ou no Pocket porque estou na correria e só vou conseguir ler semanas (meses) depois. Daí, se for algo legal demais pra ficar guardado só comigo, vou jogar aqui.
Combinado? Combinado.

1 - O polvinho mostrou o pintinho. Nem tudo o que vemos nos filmes infantis é tão infantil ou fofinho.
via Nerd Pai

2 - Coisas que eu poderia ter escrito - Sabe quando você lê uma coisa que alguém escreveu e se enxerga perfeitamente naquilo, como se fossem suas próprias palavras? É, aconteceu comigo.
via Entre Todas As Coisas

3 - Dentes de Leão e Poesia - Achou um dente-de-leão? Aquela flor descabelada, que quando é assoprada sai voando os "cabelinhos" brancos todos. Então, achou? Tira uma foto e manda pro Palavras e Silêncio.
via Palavras e Silêncio

4 - Inglês na calçada - Uma canadense, em intercâmbio no Brasil, resolveu doar parte do seu tempo para ensinar inglês a moradores de rua. Saiu em vários lugares já, jornais grandes e sites variados, mas eu vi primeiro no Facebook.

5 - Testamento da Kombi - É, aquele carrinho meio feio, mas super versátil e espaçoso, que carrega de crianças a pacotes de café (meu tio trabalha com isso, em uma kombi) deixará de ser fabricado em breve (ou já deixou?). Aí, em uma ação incrivelmente criativa e sensível, a Volkswagen colocou no ar esse site de despedida, onde estão recolhendo histórias de pessoas e suas kombis ou das kombis que passaram por suas vidas de alguma forma marcante. O mais lindo e emocionante é o testamento que a "kombi" fez, deixando coisas para algumas pessoas que tiveram suas vidas transformadas em função de/dentro de uma kombi. Sério, dá vontade de chorar e vale muito a pena dar uma olhada no site.
via Ana no Facebook

***
Trilha Sonora: Blue Poles - Patti Smith. Coloquei o Grooveshark pra tocar a estação de artistas/músicas semelhantes ao Iggy Pop e já tocou de um tudo aqui.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Músicas Que Ficam

Tocou no rádio essa semana uma música que me fez voltar no tempo por uns instantes.
Era aquela música, Velha Infância, que diz "Meu riso é tão feliz contigo O meu melhor amigo é o meu amor".
Na época em que ela ainda era muito tocada, eu namorava uma pessoa com a qual hoje eu não tenho o menor contato. No máximo uma notícia ou outra, vindas de amigos em comum, quando o nome dele surge em uma conversa e eu pergunto como ele está. Pergunto por curiosidade e porque, sim, ele foi importante na minha vida de inúmeras formas. Éramos amigos, antes de qualquer coisa e continuamos amigos, depois de tudo, apesar de tudo, por algum tempo.
Ouvi a música e fiquei pensando como as coisas mudam com o passar do tempo e letras que pareciam ter sido escritas pra você e uma determinada pessoa, de repente, já não fazem o menor sentido.
Ele não é mais o meu melhor amigo há muitos anos, não é mais o meu amor, meu riso tem outras razões para ser feliz e ele não é mais nenhuma dessas razões, ele não é mais um sonho pra mim, não penso nele desde o amanhecer e, muitas vezes, passo meses sem nem lembrar que ele existe.
Outra música que considerávamos "nossa música" era A Sua. Continuo gostando dela, mas também não faz mais sentido associar a ele. A não ser por um verso que posso dizer com sinceridade que é e sempre será verdade quando falo de qualquer um que tenha passado pela minha vida: "Eu te quero sempre em paz".
Em qualquer relacionamento, independente de como termine, não pode deixar de existir o desejo de que coisas boas aconteçam ao outro. Comigo por perto ou não, que a vida deles siga em paz, como desejo que a minha siga.
Não consigo entender pra onde vai todo o amor que se jura um dia, quando, de repente tudo acaba e vai cada um pra um lado. As músicas viram apenas uma coisa que toca ao acaso e nos faz pensar em alguém que já passou. Mas o sentimento de querer bem... Não é possível que acabe por completo se ele chegou a ser verdadeiro.
As músicas que não podemos proibir de tocar ao acaso, numa terça-feira qualquer, se ainda nos fazem pensar "Onde foi que erramos? Porque não deu certo? Onde andará fulano?", são a prova de que pelo menos um carinho fica de todo amor que passa.

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Trilha Sonora: Velha Infância ficou na minha cabeça a semana toda.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Green Jones / Norah Day

Acabei de ouvir Outro dia ouvi uma música que preciso eu precisava compartilhar aqui (no facebook eu já compartilhei na mesma hora).
Primeiro a música, depois as minhas opiniões de crítica musical de show de churrascaria:




Sim. É o Billie Joe Armstrong, vocalista do Green Day, aquela banda de punk rock (?*) e a Norah Jones, aquela cantora da voz doce, que canta lindamente as músicas que você pode usar para quase tudo na vida: de dormir a dirigir, passando por namorar e andar de elevador.
Não sei ainda como e quando começou, preciso dar uma procurada, mas eles estão cantando juntos e parece que a coisa foi até que bem divulgada já. Eu, desatualizada como estou, nem estava sabendo de nada e fui pega de surpresa quando alguma página de música que curto no Facebook publicou o vídeo acima. Fui ver correndo por dois motivos: adoro os dois em suas carreiras e achei isso muito inusitado. Nunca pensei que um cara que canta músicas como as do Green Day fosse capaz de mudar de estilo assim cantando com aquela fofura-meiguinha-bonequinha da Norah Jones.
Mesmo nas músicas mais tranquilas deles, o estilo é bem diferente, mais rock mesmo, não fugindo nunca do jeitão moleque do Green Day.
Já no caso da Norah Jones, não há muita surpresa, porque nessa dupla com o Billie Joe, eles estão fazendo um som bem folk, aquela coisa que combina com violão e lembra férias no campo, outono, coisa marrom (só eu penso nessas coisas quando ouço folk? Desculpa, então. Sou louca.). Não muito diferente do estilo original dela que, embora não seja folk, também é uma coisa bem tranquila de ouvir, traz aquela sensação de que nada mais é urgente, que o mundo deu uma desacelerada e que só importa o quê ou quem está ali com você naquele minuto.
A surpresa maior foi a parceria dos dois por causa do Billie Joe mesmo. Pra mim, humildemente palpitando, foi uma coisa estranhamente boa de ver e ouvir.
Achei que ficou muito bom, a voz deles combinou, ele se mostrou um cara corajoso e de voz versátil arriscando um estilo tão novo pra ele e uma parceira tão diferente dele, como a Norah Jones.
Enfim, pra quem não é profissional no assunto, falei demais já. Só queria indicar a dupla pra vocês e, se gostarem de Long Time Gone, tem mais músicas aqui, clicando na imagem:

https://itunes.apple.com/br/album/foreverly/id728775523?wmgref=http%3A%2F%2Fwmuk-apache.co.uk%2FLS%2Fbplayer%2Findex.html&affId=2082724&ign-mpt=uo%3D4


Sobre as músicas: todas elas são regravações do disco lançado em 1958, Songs Our Daddy Taught Us,  dos Everly Brothers, uma dupla que fez sucesso nos anos 50/60.
Espero que gostem!

(*Adoro Green Day, mas nunca tive muita certeza se devo ou não dizer que eles são uma banda de punk rock. Rock é, mas punk... Não sei, é um "rótulo" que não gosto de usar pra eles. Até porque, rótulo nenhum é legal de se usar em coisas que não sejam produtos industrializados que necessitem de informações nutricionais, procedência e data de validade, né?)

domingo, 17 de novembro de 2013

Memórias de uma Moça Bem-Comportada

Passei minha vida sendo uma moça bem educada, que prende o choro pra não precisar alugar o ouvido alheio com problemas desinteressantes, que evita se meter em assunto de terceiros se não for convidada, que faz o máximo possível para respeitar e não invadir o espaço dos outros, não respondo meus pais, não arrumo briga na rua, nunca passei noite fora sem avisar, nunca trouxe pra dentro de casa amigos ou namorados procurados pela polícia, eu mesma nunca fui abordada pela polícia na rua e morro de medo de confusão.
Sempre fiz o possível para seguir as regras, respeitar os mais velhos e ser bem vista por onde passei.
Minha cabeça sempre repousou tranquila e leve no travesseiro.
Não sou perfeita, nunca pretendi ser, mas dentro dos deslizes que sei que cometi na vida, nunca fiz nada realmente digno de um parágrafo na biografia da minha vida.
Acho que sou uma pessoa até chata de se conhecer, porque não tenho grandes histórias pra contar, não tenho várias lembranças divertidas de coisas que aprontei, de flagras que me deram pulando um muro, roubando um carro ou acordando nua ao lado de um estranho numa casa que não sei de quem é.
Namoros tive poucos e, de realmente significativo e duradouro, só um.
Não tenho um diploma universitário, mas não foi por falta de tentar: larguei a faculdade quase no final porque passei em um concurso público estadual, que me garante um emprego estável e contas pagas no quinto dia útil de cada mês. Não havia escolha. Ou eu terminava o curso e continuava desempregada até sabe Deus quando ou eu assumia o cargo e largava a faculdade pra depois. Pensei racionalmente e escolhi o emprego.
Eu quase sempre penso racionalmente.
São 27 anos, 6 meses e 17 dias pensando racionalmente, agindo com responsabilidade e colocando o bem estar das pessoas à minha volta antes do meu bem estar, evitando, assim, falar desaforos, responder de forma justa, dar na cara e cuspir em pessoas que nem sempre respeitam minhas decisões, minhas opiniões, meus desejos e meu espaço.
Tudo isso para, um belo dia (hoje) eu me dar conta que não valeu merda nenhuma, que eu devia ter feito valer minhas opiniões em todos os minutos que alguém questionou o que eu queria. Eu devia ter batido portas, devia ter gritado, devia ter ficado com fama de louca, de mal educada. Eu devia ter agido como sempre agiram comigo.
Eu devia ter cuidado da minha vida como sempre cuidei, mas errei por não fazer isso deixando claro que a vida é, sempre foi e sempre será minha.

***
Trilha Sonora: Epitáfio - Titãs. Mentalmente tocando aqui desde que comecei o último parágrafo.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

(in)Decisões

De vez em quando a gente toma certas decisões pensando que vai ser fácil bancar as consequências depois.
Quase nunca é fácil.
A dificuldade para aguentar as consequências das suas decisões é proporcional à dificuldade que você teve para chegar na tal decisão.
Quem vê de fora e quem raramente pergunta, pensa que está tudo ótimo como está, que sou uma pessoa muito bem resolvida e que não volto atrás nunca.
Quem vê meu lado de dentro, quem me conhece sem precisar perguntar nada, sabe. Quando ele me olha, ele sabe que não é tudo tão bom quanto pensam. Quando conversamos sobre o futuro, ele sabe que ainda há espaço pra ele, mesmo que eu nem sempre admita.
Quando estamos juntos, nós três como uma família, vejo que tudo valeu a pena e que é ali, exatamente onde eu estiver, desde que com eles, que eu realmente quero estar. Sinto, por outro lado, que quando não estamos juntos, quando ele não está com a gente, que estou deixando passar momentos que nunca poderemos recuperar e que um dia ela talvez me cobre isso. Essa será a consequência mais dolorosa que vou carregar pelas minhas decisões.
Enquanto há tempo, enquanto não há cobranças dela sobre nossa separação, sobre o que eu sinto e não posso esconder de ninguém, decidi que vou apenas me dedicar a organizar minha vida, preparar um futuro seguro e digno e aí, quando pudermos, antes que ela tome consciência da nossa situação e as perguntas comecem, a gente senta e conversa. Se ainda houver o mesmo desejo dos dois lados, voltamos a ser uma família de segunda a domingo. Mesmo que não seja de forma tradicional, um endereço só, coisa e tal.
No fim das contas, se der certo, terei voltado ao meu desejo inicial de casamento dos sonhos: cada um no seu canto, o amor no meio.
E espero que essa decisão tenha consequências mais simples.

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Trilha Sonora:Ventilador é a trilha sonora do verão.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Felicidade, Minha Filha

Alice, outro dia a mamãe estava vendo na TV um programa especial sobre o Marcelo Jeneci e, não sei se até você ter idade para ler tudo isso ele ainda estará na mídia, mas tenho certeza que eu vou continuar ouvindo as músicas dele e você vai acabar aprendendo pelo menos um versinho ou outro das músicas lindas que ele faz.
Acontece que você, como quase sempre, estava no meu colo e enquanto eu via e cantava, você dançava do seu jeitinho engraçado de dançar de um lado pro outro, como se fosse uma arvorezinha leve de poucos galhos e folhas que se sacode fácil com qualquer ventinho, pra lá e pra cá, como se fosse sair voando em sua própria leveza, mas continua firme no chão, em seu infinito tamanho interior que um dia desabrochará (nem sei se posso dizer que árvore desabrocha, mas enfim...) e te tornará grande como as árvores e as pessoas adultas que carregam em si esse tipo de peso invisível que as mantém firmes no chão.
Pois, então, estava tocando aquela música dele, Felicidade, e fiquei pensando no quanto pretendo cantá-la pra você durante sua vida.
É que ela ensina tanto sobre ser grande, sobre perder e não sofrer, sobre ganhar e não se achar demais por isso, sobre ter e não se perder de si, sobre ser feliz nas pequenas coisas...
Ensina sobre sorrir, sobre buscar a felicidade acima de tudo, em tudo, apesar de tudo.
É o que eu quero que você faça: busque sempre a sua felicidade, filha. De vez em quando, apesar do meu desejo de te ver sempre feliz, vai ser quase impossível sorrir, mas acredite que toda dor passa ou, pelo menos, passa a doer menos e aí você volta a sorrir.
De repente, se você for ouvir, vai entender coisas diferentes das que entendo ele cantar quando ouço. Mas é assim mesmo, meu amor. Com música (livros, quadros, filmes... acho que com as artes de forma geral), todo mundo ouve a mesma coisa, mas cada um entende uma outra coisa que é só sua. O importante é entender algo.
Não quero nunca te forçar a entender o mesmo que eu entendo, mas quero que você acredite quando eu te disser que "Felicidade é só questão de ser" e seja. Seja sempre. Sempre que possível.
E enquanto você for essa arvorezinha pequena que sacode pra lá e pra cá sem sair voando, mamãe vai trazer o vento pra te fazer dançar. Depois, quando se tornar a tal árvore enorme que eu sei que tem dentro de você, mamãe vai só sentar e observar enquanto você estiver sendo.
Feliz.


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Trilha Sonora: Felicidade - Jeneci. "Melhor viver, meu bem, pois há um lugar Onde o sol brilha pra você"

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O Risco de Parecer Doida

Já escrevi aqui, acho que mais de uma vez, a respeito da minha avó que se foi quando eu tinha 9 anos. Ela era (e sempre será) a paixão da minha vida. Éramos muito apegadas e encarar a morte dela ainda tão criança foi uma coisa que me marcou profundamente e me fez pensar sobre Deus, sobre a morte, sobre a vida. Tirei conclusões precipitadas na época e hoje entendo de forma muito mais clara todo o processo da vida e morte e sei que a existência ou não de Deus não tem a ver com a finitude ou não das nossas vidas. Isso é biológico, necessário e mesmo com a dor que causa, é até aceitável depois de um tempo.
Acontece que passar esses anos seguintes sentindo a falta da minha Mãe Velha (nunca a chamei de vó. Era a minha Mãe Velha) me fez buscar em outras pessoas coisas que lembrassem ela, que não me deixassem apagar da memória as poucas lembranças que tenho dela. Quando não temos consciência de que podemos perder algo ou alguém, damos muito menos valor e prestamos muito menos atenção nos momentos que futuramente poderiam ser lembranças e histórias para contar.
Nisso, com toda essa necessidade de buscar em coisas e pessoas detalhes que me lembrassem dela, já tive crises de choro por medo que o meu ex-namorado morresse por causa da diabetes que ele tem em comum com ela, já me vi observando com uma ponta de inveja o abraço carinhoso entre avó e neta por aí, coloquei na minha filha o nome dela como segundo nome, entre outras coisas.
Agora, trabalhando nessa escola atual, conheci uma senhora que tem idade para ser minha avó e, por ter sido sempre tão simpática e educada, me oferecendo comida e lanchinho o dia todo (ela já notou que eu adoro lanchinhos no meio do dia), batendo papo sobre a vida dela e a minha e sempre sorrindo ao me dar boa tarde e desejar um bom fim de semana, comecei a ter a sensação de que ela se parecia com a Mãe Velha.
A sensação se tornou mais real quando minha irmã, que também conhece a senhora, disse que vê a mesma semelhança.
Desde então vivo numa dúvida quando a vejo: conto pra ela sobre a semelhança e corro o risco de cair num choro sem fim de saudade da Mãe Velha ou fico guardando só pra mim essa sensação de que quando ela me chama de "minha filha" com aquele sotaque tão familiar, quem está falando comigo é a minha Mãe Velha e não a avó de outros netos?
De qualquer forma, esse contato diário com ela tem me feito sentir novamente como a neta que eu não me sentia há anos e isso me faz bem. Muito bem (tirando a sensação de que sou louca por estar adotando como se fosse minha avó uma senhora que nem imagina que se parece tanto com outra pessoa).

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Trilha Sonora: Não tem, mas a Mãe Velha adorava Erasmo Carlos.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Somos Todos Culpados

Recentemente passei por uma separação que foi causada, entre outros fatores, pela interferência de uma pessoa que, creio eu, nem imagina o dano que causou a uma relação de 5 anos (de onde nasceu uma criança, inclusive).
Isso me fez pensar em como essa pessoa se sentiria se soubesse do problema que ela ajudou a causar, se soubesse que (em partes) por culpa dela a minha filha vai crescer sem ver o pai dormindo e acordando na mesma casa que ela, vai crescer sem ver os pais casados, fazendo programas de família, comemorando aniversário de casamento e trocando presentes no 12 de Junho. A presença do pai, como pai dela, não tenho dúvidas que ela terá. Mas aquela figura masculina que eu tive em casa, da autoridade diária do pai que trabalha o dia todo mas chega pouco antes do jantar para dar bronca pelas coisas erradas e parabenizar pelas coisas certas, para olhar o caderno da escola e ajudar na lição de casa, contar a historinha antes de colocar pra dormir e dar boa noite... coisas que eu tive e minha filha não terá.
Eu saí "prejudicada" também, mas nada que um novo amor (um dia, quem sabe?) não resolva. Para ser um casal, basta outra pessoa que te ame. Qualquer pessoa. Mas para ter um pai, não serve qualquer um. Ainda mais quando você sabe que o seu existe e está perto o bastante para que ninguém tome o seu lugar, mas longe o bastante para que exista saudade até que chegue o fim de semana de novo.
Fiquei pensando, então, quantas coisas a gente faz sem pensar, faz por maldade inconsequente, faz pensando que não está prejudicando ninguém e no fim a gente acaba prejudicando, acaba estragando um relacionamento que não era do nosso interesse destruir, acaba mudando todo um futuro que poderia ou deveria existir, mas vira apenas uma possibilidade não concretizada.
E a menos que uma das partes prejudicadas chegue até você para contar, você nunca saberá do mal que causou.
Seria estranho demais um dia você receber uma carta/e-mail/sms/tanto faz, te acusando de algum estrago que você causou na vida de outras pessoas? Seria vingança demais informar a pessoa com a intenção de fazê-la se sentir culpada pelo estrago causado? E, por fim, será que eu (e você e todos nós) não estaríamos sujeitos a uma acusação dessas?

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Trilha Sonora: Flores do Mal - Barão Vermelho. Essa faz parte da minha playlist Of a Broken Heart, em breve num site de compartilhamento de músicas perto de você.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Instafotos Desnecessárias

O episódio do prego me fez pensar de forma mais clara em um fato que tenho observado há tempos, desde o surgimento e popularização das câmeras digitais e a possibilidade de expor infinitas fotos na internet.
Acho curioso quando as pessoas viciam tanto em fotografar (com a câmera do celular antiguinho, que seja), que saem tirando fotos de coisas que ninguém quer ver e que elas mesmas não teriam motivo para querer registrar (e mostrar) se não fosse toda essa facilidade e "banalização" da fotografia.
Pensem: há uns 15 anos, mais ou menos, você tirava fotos e montava álbuns com os melhores momentos de uma viagem, tinha fotos com amigos, namorado, família, bicho de estimação... Mas não tinha nenhuma foto da comida deliciosa que você comeu em um restaurante de beira de estrada que ninguém conhece mas todo mundo deveria conhecer a caminho de Salvador onde fui passar minha lua de mel e onde também tirei outras centenas de fotos da lua e do vendedor de correntinhas artesanais e do quarto onde me hospedei e do mendigo que resolvemos levar para jantar e da mulher que estava cochilando e babando no ônibus e do... Entendem o que quero dizer?
Hoje em dia, com a facilidade de fotografar, armazenar e postar as fotos sem a necessidade de comprar filme, colocar na câmera (e nem todo mundo sabia colocar direito um filme na câmera), bater as fotos e pagar para mandar revelar e depois ainda ter que mostrar pra pessoa por pessoa o tal álbum das fotos da lua de mel/batizado/aniversário/viagem de formatura, as pessoas simplesmente desperdiçam pixels tirando foto de um prato de comida que foda-se se estava uma delícia, quem comeu foi você, não eu! Perdem tempo tirando auto-retrato (os famosos egoshots) com biquinho na frente do espelho só para mostrar que comprou um novo par de cílios postiços que ficou bapho, gata!
Já tirei auto-retrato, sim. Já tirei foto de prato de comida também. Já tirei foto do meu pé só porque sim.
Só não sou de ficar expondo tudo isso sem mais, nem menos. Até posto uma foto inútil ou outra, mas sempre penso "alguém quer ver? É necessário?".
E, de uns tempos pra cá, refletindo mais profundamente sobre o assunto, cheguei à conclusão que uma boa pergunta a ser feita antes de tirar uma foto é pensar "eu gastaria uma das 42 poses de um filme tirando uma foto dessas se não fosse uma câmera digital? Eu colocaria essa foto no álbum que mostraria para as visitas?". Quase sempre a resposta é "não, não gastaria".
Longe de mim ditar as regras de como as pessoas devem ou não gastar seu tempo e os pixels e pilhas de suas câmeras, cada um registra o que quer e compartilha o que tem vontade de exibir, mas pensem nisso e vejam quantas fotos você tem no seu computador, mas nunca teria em um álbum de fotos reveladas em 1 hora nas Fotóticas da vida.

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O episódio do prego me fez pensar nesse assunto das fotos porque, hoje em dia, a maioria das pessoas teria o instinto de tirar uma foto com o celular e postar no Facebook reclamando da qualidade da comida e ameaçando Deus e o mundo de processo. Eu só tive o instinto de continuar comendo mesmo, porque eu estava com fome e a comida estava ótima.

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Trilha Sonora: De uns tempos pra cá passei a ouvir diariamente, antes de vir trabalhar, um programa de rádio com a minha mãe onde só toca música gospel e agora SEMPRE tem uma musiquinha de Deus na minha cabeça. Hoje tem uma aqui que eu só lembro de um verso que diz "vai ter uma festa no céu".

O Que Aprendi Hoje #5

Quando você for fazer seu prato e a concha estiver quebrada, atenção na hora de mastigar: um prego pode ter caído do cabo da concha direto na panela e da panela para o seu prato.
Quase morri do coração quando mastiguei e senti uma coisa dura na minha boca. Pensei que fosse um dente meu mas, graças a Deus, era só (?) um prego.
Que alívio!

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Trilha Sonora: A música do doodle de hoje no Google tá na minha cabeça. Clair de Lune - Debussy. E Debussy me lembra esse poeminha do Bandeira. E esse poeminha do Bandeira me lembra uma aula de Leitura e Produção de Texto, na faculdade, quando a professora nos apresentou esse poeminha.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O Que Aprendi Hoje #4

Hoje fui arrumar uma caixa de revistas velhas e encontrei uma edição daquela revista Witch (eu achava fofa). Tinha lá uma matéria falando do melhor bichinho de estimação pra ter em casa, com os prós e contras de várias espécies.
Pois bem: aprendi que as chinchilas podem desmaiar de calor.
Cara.
Uma chinchila desmaiada deve ser uma coisa tão fofinha, mas tão fofinha, que antes de acudir eu ia querer tirar uma foto e guardar de recordação.

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Este blog não apóia maus tratos aos animais (em especial às chinchilas, neste caso).

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Trilha Sonora: o som ambiente da casa é a Alice batendo coisas no carrinho e resmungando e minha mãe conversando com ela como se fossem duas adultas de 48 anos ou duas bebês de 9 meses, alternadamente.

O Que Aprendi Hoje #3

Hoje eu aprendi o que é um estadiomêtro.
E quero um.
Não sabe o que é? Aqui: https://www.baby.com.br/moda-infantil/acessorios-para-bebes/estadiometro-compacto-eggshape-rosa-2m-wiso

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Outro post salvo como rascunho que esqueci de publicar. Esse é de segunda-feira, 12/08/13 , acho.

Trilha Sonora: Não sei o nome, mas é uma música gospel que minha mãe estava ouvindo no rádio hoje de manhã e grudou na minha cabeça o dia todo.

O Que Aprendi Hoje # 2

Aprendi que as pessoas gostam mesmo de julgar, palpitar e criticar sem tentar ajudar antes.
Quer me deixar de mau humor? Intrometa-se na minha vida (e, agora, na criação da minha filha). E, mais que isso, intrometa-se dando opinições que eu não pedi baseada em atitudes que você não costuma ter na SUA vida.
Veja bem, se você não faz X, não me mande fazer X como se eu fosse errada por estar fazendo Y ou simplesmente por não estar fazendo X. Vai você fazer X, vai você cuidar da sua vida e intrometa-se na minha vida quando eu pedir conselhos.
Não suporto MESMO gente que fala em tom de lição de moral, como se fosse professora universal especializada em vida alheia. Ainda mais quando a tal professora universal só sabe do que está falando porque leu qualquer coisa em quaquer lugar ou ouviu falar, mas não viveu e nem sabe na prática do que está falando.
Enfim, lição do dia para amargar meu humor. Mais.

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Post que ficou salvo como rascunho e esqueci de publicar). É de terça-feira, 06/08/13.

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Trilha Sonora: Não. E não enche o saco. Tô com ódio.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O Que Aprendi Hoje #1

Há meses estou pensando em começar uma nova seção aqui no blog. Fui enrolando, deixando pra depois e ela acabou não vindo, até que hoje a vontade de escrever bateu e o tema gritou na minha frente quando pensei "mas escrever sobre o quê?".
Funciona assim: todos os dias (ou quase todos os dias) a gente aprende algo novo ou fica sabendo de alguma coisa, uma coisa boba que seja, que ninguém nunca disse. Pensando nisso, resolvi começar a seção para registrar o que aprendo todos os dias (ou quase todos os dias) e, quem sabe, de quebra ainda ensinar algo pra outras pessoas que eventualmente passem por aqui ou caiam aqui buscando uma informação específica.
Então, o que eu aprendi hoje?

Hoje aprendi a calcular a carga horária para fazer um histórico escolar.
- Oi?
É. Eu trabalho na secretaria de uma escola e, desde que entrei nesse emprego, há mais de 4 anos, só mexia com assuntos de pagamento e vida funcional de professor. Até que eu mudei de escola e precisei começar quase do zero, aprendendo outras partes da rotina administrativa porque na escola atual já tinha uma pessoa que fazia todo o meu serviço e eu fiquei quase um ano sofrendo para me encaixar em outras funções e aceitar que, tudo bem, vou ganhar o mesmo salário de antes só que vou trabalhar menos e ter menos responsabilidades agora. Enfim, caçando aqui e ali, acabei me acostumando a cuidar mais da vida escolar dos alunos, fazendo matrículas e transferências.
E hoje eu aprendi como calcular a carga horária total de um curso.
Para quem já sabe é uma besteira, para quem não tem interesse no assunto é uma inutilidade, mas pra mim, no meio dessa adaptação toda, buscando uma função que me faça sentir útil de alguma forma é uma alegria aprender mais um detalhe desse assunto.

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Não vou explicar aqui o passo a passo porque acho mesmo que para a maioria das pessoas isso não serve para coisa alguma, mas se alguém tiver interesse, eu posso explicar. E os próximos posts da série serão mais ou menos no mesmo estilo. Se eu achar que pode interessar para mais alguém, dou detalhes. Se não achar interessante, me coloco à disposição para explicar a quem quiser saber. É pra evitar ficar enchendo linguiça, sabe?

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Trilha Sonora: até poucos minutos era a gritaria dos alunos no pátio. Aproveitei uma pausa para o lanche pra postar.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Não! Não Mesmo!

Semanas atrás alguém postou no Facebook uma imagenzinha dizendo que quem ama fica, perdoa, cuida, compreende, morre de ciúmes, morre de saudade, esquece o orgulho. Eu li, parei, pensei e falei pra mim mesma: NÃO! NÃO MESMO!
Com tudo o que vivi recentemente, antigamente (quem vê pensa que vivo relacionamentos amorosos desde 1943) e o que já presenciei de relacionamentos de terceiros (porque, sim, eu creio que a gente também aprende uma coisa ou outra observando o relacionamento dos outros e ouvindo casos de amigos), eu só posso discordar disso.
Eu sei, é só uma frase idiota de Facebook, criada por alguém em busca de likes e compartilhamentos e vai ver quem criou e postou a tal frase nem pensa mesmo isso... mas me irritou! Me irritou muito porque não consigo pensar que por aí tem gente julgando o que eu sinto e o que eu fiz com esse tipo de argumento "terminou o relacionamento de tanto tempo porque não ama de verdade. Se amasse, perdoava, esquecia o orgulho, blá blá blá".
Ninguém tem nada a ver com a minha vida, com as minhas decisões, mas não nego que me incomoda saber o que certas pessoas podem pensar e falar a meu respeito. O julgamento alheio me atinge, sim. Não muda o rumo das minhas escolhas, continuo fazendo o que eu pretendia fazer e quebrando a cara quando pego o caminho errado, mas me incomoda e muito saber que as pessoas pensam isso ou aquilo de mim quando o "isso e aquilo" não é verdade.
Quem ama de verdade pensa antes de agir e quando age sem pensar corre pra se explicar e pedir desculpas, quem ama de verdade não suporta a saudade e dá um jeito de acabar com ela antes que ela acabe com você, quem ama de verdade cuida primeiro de si para poder estar bem e conseguir cuidar do outro, quem ama de verdade fica ao lado do outro enquanto o outro dá espaço pra isso e quando não há mais espaço recolhe suas coisas e se afasta para ficar cuidando de longe, sem interferir. Quem ama de verdade esquece o orgulho na hora de pedir perdão por um erro, mas não deve esquecer o amor próprio na hora de não se deixar influenciar pelo amor que quer ser merecedor. Quem ama de verdade perdoa um erro, desculpa um desaforo, mas não tem que ser idiota de ficar a vida toda perdoando coisas que o magoam e que ficam se repetindo de tempos em tempos.
Quem ama de verdade, tem que saber se amar antes de amar o outro. Quem ama de verdade tem que saber se respeitar para respeitar e exigir respeito em troca.
É fácil exigir coisas absurdas como prova de amor e na prática não fazer nada do que exige.
Mais fácil ainda é postar e curtir coisas no Facebook, pra se dizer romântico, mas na "vida offline" sair magoando pessoas sem pensar nos estragos.

***
E qualquer um pode discordar de tudo isso, porque essa é a MINHA forma de ver o amor.

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Trilha Sonora: Epílogos e Finais - Agridoce. "Não é questão de sorte É jogo vencido"

quinta-feira, 11 de julho de 2013

 Trocando em Miúdos
(Chico Buarque e Francis Hime) 

Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
Não me valeu
Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim!
O resto é seu
Trocando em miúdos, pode guardar
As sobras de tudo que chamam lar
As sombras de tudo que fomos nós
As marcas de amor nos nossos lençóis
As nossas melhores lembranças
Aquela esperança de tudo se ajeitar
Pode esquecer
Aquela aliança, você pode empenhar
Ou derreter
Mas devo dizer que não vou lhe dar
O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
Meu peito tão dilacerado
Aliás
Aceite uma ajuda do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me tomou
E nunca leu
Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.

Todo carnaval tem seu fim

Foram tantos começos e pausas e recomeços e promessas de agora vai dar certo, que parei de contabilizar faz tempo.
Dessa vez parece que foi e não volta.
Justamente por todos os começos e pausas e recomeços e promessas, aquele encanto inicial e essencial foi se perdendo, aquele prazer até na saudade foi deixando de fazer sentido, os planos começaram a parecer brincadeira infantil.
Não posso dizer que tudo foi em vão, porque não foi. A maior recompensa por tudo veio em forma de uma nova vida, que é agora a razão da minha vida inteira, presente, passado e futuro. Por isso eu agradeço, por isso não sofro tanto, por ela eu sigo em frente.
Pelo resto todo, as mágoas, as ilusões, o tempo... as mentiras e os desaforos até, por que não? Me ensinaram a crescer, me mostraram do que sou capaz, me fizeram ver que tenho defeitos e tenho qualidades que eu não sabia, que ninguém tinha sido capaz de me mostrar. Por tudo isso eu agradeço também, mas tento passar por cima e esquecer, porque eu aprendi daquele jeito mais dolorido, sofrendo, querendo fugir de tudo, querendo sumir, mas agora que a lição ficou, as feridas eu não preciso mais guardar em mim.
Não nego o amor que ainda existe, não nego a saudade dos bons momentos, não rejeito a vontade de um convívio em harmonia, com respeito e carinho. Mas o resto todo, pra mim, não dá mais certo.
Foi e não volta.

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Trilha Sonora: Não tem, mas poderia ser Trocando em Miúdos - Chico Buarque. É toda tão linda que não posso me contentar com um versinho só no fim do post.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Casos de Família

Faz tempo que não conto pra vocês os causos da minha vida em família, né?
Pois bem. Dia desses estávamos na sala, Sra. Minha Mãe, meu irmão, Sr. Meu Pai e eu; dividindo atenções entre TV, internet e conversas aleatórias.
Eis que minha mãe começa a resmungar qualquer coisa sobre o cabo do netbook dela.
- Blá blá blá, meu cabinho, blá blá blá, meu cabinho...
E meu pai perguntou, com ar pensativo:
- Desde quando você tem esse cabinho?
- Desde sempre.
- Desde sempre quando?
- Desde que comprei o netbook.
- Faz mais de 1 ano?
- Claro, bem mais de 1 ano. Por quê?
- Você tá com esse cabinho há mais de 1 ano?
- É &%$#@(*! Por quê?
- Não tá na hora de promover o cabinho a sargentinho, não? Heh
Só faltou a música tema da Praça É Nossa. Não. Da Praça não, que eu gosto da Praça. Só faltou a música tema do Zorra Total.

E é por essas e outras que eu acho que Deus tem muito senso de humor, porque ele deve se divertir muito espiando de camarote as coisas que acontecem na casa da minha família.
Isso porque eu nem contei e muito menos mostrei foto do meu pai vestido de Super Homem no último fim de semana. Assim, sem motivo nenhum. Só porque sim.

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Trilha Sonora: Até gostaria, mas estou "trabalhando". Parei um pouco só pra descansar a vista dos quadradinhos do documento que estou fazendo.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Aguenta Coração

Sonhava em conhecer o mar. Desde a infância, seu sonho era ver de perto o que só via por fotos e televisão.
Um dia, já adulta e mãe de dois meninos, realizaram seu sonho. Sem contarem nada a ela, planejaram a viagem e, chegando na beira do mar, aquela alegria. Uma alegria sem fim, sem fim como o mar.
O coração explodiu de felicidade. Explodiu de verdade.
Enfartou na beira do mar.

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Baseado em fatos reais.

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Trilha Sonora: Novela sempre me deixa com músicas na cabeça. Tô com uma que, parece que se chama Ride e é da tal Lana Del Rey, que eu só ouvia falar, mas nem sabia direito quem era. É uma vergonha, mas assumo: não atualizo meus conhecimentos musicais desde... muitos anos.

sábado, 4 de maio de 2013

Sobre Nomes

Tenho uma dúvida e espero que vocês, leitores lindos e inteligentes que são, saibam me responder. É o seguinte:
Já repararam que alguns nomes sempre andam juntos? Nomes como Rita de Cássia, por exemplo, até entendo, porque é o nome de uma santa (acho que é, não é?), daí quem vai homenagear a santa, coloca o nome todo. André Luis também é uma combinação comum e justificável, tendo a origem no espiritismo (acho que é, não é?).
Mas outros nomes, eu realmente não sei o motivo da insistência nas combinações.
Uma listinha rápida dos que me lembro agora (continuem nos comentários, se souberem de mais algum que se repete SEMPRE e você não sabe o porquê):
-Sandra Regina
-Bruna Caroline
-Telma Regina
-Amanda Cristine

Têm uma razão ou alguém simplesmente inventou de combinar, outras pessoas gostaram e passaram a repetir? Expliquem-me, por obséquio. Aguardo as respostas na minha mesa, ok?

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Trilha Sonora: Concurso de Elvis no Jornal Nacional.

sábado, 27 de abril de 2013

Eco de Antigas Palavras

Encontraram uma carta de amor de 300 anos escondida nos muros de uma casa, lá na Espanha. Estão agora tentando descobrir a identidade dos apaixonados, especulam se a mulher teria morado no convento que funcionou ali anos atrás.
Muitos detalhes e mistérios que ninguém nunca saberá com certeza.
E tudo isso só me lembrou de uma coisa. Uma música, aliás:
"Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização"


Aqui a notícia (em vídeo), no Yahoo. http://migre.me/eiHRa

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Trilha Sonora: Nem preciso dizer, né? E a voz linda do Chico vai ficar cantando na minha cabeça por umas boas horas agora. Sorte que isso é bom. =)

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Passados Não Apagados

Sou uma pessoa com um tipo de memória espetacular para coisas bobas, que ninguém mais se lembra. Sou capaz de guardar cenas inteiras que vivi com detalhes como cheiros, cores, sons e imagens de forma nítida e quase palpável de tão intensas quando me lembro delas anos depois. 
Agora, por causa da Alice, acho importante que eu deixe tudo isso registrado de alguma forma que ela possa, um dia, ler e saber dessas histórias, caso eu não tenha tempo de contar tudo pessoalmente.
Pensei nisso agora há pouco, vendo uma imagem compartilhada no Facebook pela Aline Love, comparando como as crianças andavam nos carros antigamente e como andam hoje (antes apertadinhas nos porta-malas e agora amarradas em cadeirinhas cheias de cintos de segurança). Me lembrei então do seguinte:

Minha tia Quel tinha uma Marajó, que chamávamos de Maravéia (não sei ao certo se na época, fim dos anos 80 começo dos anos 90, já era um carro velho, mas o apelido do carro era esse). Minha prima Amanda, minha irmã e eu, as três com idade entre três e seis anos, só andávamos lá atrás, onde era (ou deveria ser) o porta-malas. Chamávamos de chiqueirinho porque era mesmo um chiqueiro: tinha mochila de escola da Amanda, tinha material escolar, tinha cadernos para desenharmos, tinha canetas e lápis, tinha bolacha, tinha livros, tinha bonecas, tinha roupa de calor, tinha roupa de frio, tinha jornal, tinha coberta, tinha travesseiro, tinha sapato, tinha meia... Tudo que era nosso, que fosse essencial para as "longas viagens" de não mais que 30 minutos entre uma casa e outra visitando parentes. 
Na época e, de acordo com as minhas lembranças, parecia um espaço tão grande, como uma enorme sala de estar. Não! Melhor: como um enorme quintal, onde era permitido fazer bagunça, espalhar tranqueiras, dormir, comer e tudo isso com a vantagem de que ali nunca chovia, então nunca era hora de recolher nada correndo e entrar pra casa. Hoje, racionalizando de acordo com os carros que já andei e o tamanho dos porta-malas que sei que existem, vejo que o chiqueirinho não era nada de excepcional com relação ao tamanho. Nós três é que éramos mesmo muito pequenas e precisávamos de pouco para nos distrair e divertir.
Boas lembranças de infância...

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Trilha Sonora: Tava vendo novela e terminou com um "O nosso lema é ousadia e alegria". É.

sábado, 23 de março de 2013

Músicas Para Não Tocar No Seu Casamento

Tava vendo TV com o meu pai aqui e passou um comercial de um Box de oitocentos CDs (ainda tem CD pra vender em Box? Acho que eram DVDs, então) DVDs com músicas da Jovem Guarda. Entre elas, tem aquela da Vanderléia, Pare o Casamento (adoro a versão com o Kid Abelha), e pensei que seria uma ótima música para tocar na entrada da noiva. Só que não, porque né.
Daí, bem, toma aí (mais) uma lista:

Lá Vai a Noiva (fugindo da Igreja, pega ela!)


  • Pare o Casamento - para tocar no seu próprio casamento porque seria divertido para os convidados e triste para o noivo (ou a noiva, vai saber?) ouvir o versinho "Senhor Juiz esse casamento será pra mim todo o meu tormento". Daquelas que se casam já prevendo que vai dar bosta.
  • Não sei o nome e nem tô com vontade de ir procurar agora, mas o refrão é famoso: "Estou casando, mas o grande amor da minha vida é voceeê". Convite de Casamento - porque seria bastante constrangedor para o noivo e risível para os convidados saber que a pessoa tá casando com esse porque era esse o que tinha pra hoje. Mas na verdade queria era o outro.
  • Better Man - pensa que decepcionante, você casando com o cara e dizendo que não conseguiu achar um cara melhor. Na real, a interpretação pode ser a de que não existe um homem melhor. Mas eu sempre vi essa música com um ar bastante triste, meio que no estilo da anterior, "tô com você porque não achei nada melhor, mas eu sei que tem coisa MUITO melhor". Chato, cara! Mas os convidados também se divertiriam.
  • Quando Amanhecer - bem sincero da sua parte se casar já avisando que um dia a pessoa pode acordar e não mais te ver, mas que tudo bem, é assim que tem que ser. Dica: se for se casar com alguém que gosta muito dessa música, não gaste demais na festa de casamento e nem dê presentes muito caros. Nunca se sabe quando o seu grande amor pode dar no pé e te deixar sozinho com o prejuízo todo.
  • Esse Cara Sou Eu (precisa link?) - começar o casamento usando essa música já dá o direito automático para que a outra parte use a música anterior. Você se assume o cara-chato-pra-porra-que-se-acha-super-romântico-e-cara-perfeito. 


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Bom, essa lista saiu meio de improviso, então vai ficar pequena mesmo. A menos que eu me lembre de outras ou vocês me sugiram mais algumas.

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Recado n° 1: me rendi ao Twitter. Quem quiser bater um papo, me segue lá. @eudesouzalves
Recado n° 2: meu outro blog tá sendo (quase) atualizado com mais frequência. Quem se interessar por literatura e não se importar de ler os finais antes dos começos dos livros, talvez possa gostar dele. paraaestante.blogspot.com


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Trilha Sonora: Começou com Pare o Casamento, mas acabou com a novela das nove ao fundo.

segunda-feira, 11 de março de 2013

De Mãe Pra Filha

Ela ainda é um bebê, 4 meses só.
Quero aproveitar e viver cada segundo possível com ela, porque todos dizem e eu sei, passa muito rápido.
Mas é inevitável pensar em quantas coisas quero ensinar a ela quando ela for maiorzinha.
Já estou, inclusive, montando uma listinha dessas coisas para não correr o risco de esquecer nada.

Fazer estrelas de papel. É um origami, mas é o origami mais lindo e terapêutico que conheço. Minha irmã me ensinou e consegui ensinar a poucas pessoas até hoje. Como não consigo ensinar, gosto de presentar as pessoas com elas. Gosto também de fazer e deixar "abandonadas" para que alguém as encontre e, quem sabe, sorria com aquelas mini-estrelas.
Quando a Alice aprender a manipular coisas com delicadeza, vou ensinar a fazer estrelas.

Ler. Quero que um dia ela possa dizer que aprendeu a ler comigo, com os meus gibis e livros e que sempre ganhava livros legais da mamãe. Comecei a biblioteca dela ainda na gravidez, antes de saber se seria Alice ou Téo. Quero que ela tenha prazer na leitura desde pequena, como meus pais me ensinaram a ter e eu consegui ensinar meu irmão mais novo.

Andar de bicicleta. Confesso que não sei andar direito. Só posso andar em linha reta e não possa parar. Se tiver que fazer curva ou parar, prepare almofadas para amortecerem minha queda. Mas me lembro com saudade das tardes em que meus pais iam com a minha irmã, eu e nossas bicicletas para a USP, onde nos ensinavam a pedalar. Minha mãe acho que só olhava e torcia, porque ela menos do que eu (nível zero) anda de bicicleta.

Falar francês. Morro de preguiça quando penso em voltar para a faculdade. Mas tenho duas motivações: terminar o curso para ter um diploma (salários e melhores oportunidades de emprego) e aprender mais da língua para poder ensinar minha filha desde pequena. Acho importante que as crianças aprendam desde cedo outro idioma e, se puder ser um idioma que ela dificilmente terá contato na escola, melhor ainda. Inglês e espanhol as escolas ensinam, então quero que ela aprenda algo além disso. Se ela quiser outra língua, tudo bem também, mas gostaria de poder ensinar e aprender com ela.

Ouvir música. Quero muito que a vida dela seja toda musicada, como é a minha (acreditem, faz uma diferença enorme para memorizar coisas e amenizar dores). Mas para isso ela precisa sentir prazer em ouvir música, como eu sinto. Mesmo que ela decida gostar de músicas que eu não gosto, vou entender. Só quero que ela goste de ouvir, de ler, de cantar, conhecer coisas novas. Sempre que possível ouço músicas com ela e aparentemente ela já demonstra certo interesse por algumas coisas quando começam a tocar de repente. Pretendo continuar ouvindo músicas com ela para que, mesmo que ela não herde o gosto da mãe, no futuro ela possa ouvir algumas coisas e falar "essa eu ouvia com a minha mãe, ela adorava".

Escrever. Gosto de escrever desde que eu era criança. Sempre tive diários e gostei das aulas de português por causa da literatura e redação. Acho importante que ela saiba se expressar e, pra isso ser possível, vou estimular o uso de diários, agendas, blog e cartas. Quero que ela conheça o prazer de mandar e receber cartas. Quero que ela consiga se conhecer e entender quem ela é de forma íntima, usando diários e, se ela for mais desenvolta e quiser, usando blogs. É gostoso olhar pra trás e ver como mudamos através de coisas que registramos nos diários, blogs e cartas. São heranças que ela receberá um dia: as cartas que recebi, as que nunca enviei, os diários, os blogs... quero que ela leia tudo isso e possa saber quem foi a mãe dela antes de se tornar a mãe dela.

Feminismo. Acho importante que ela saiba o que é o feminismo desde cedo. Não espero que ela seja uma menininha que vai queimar seu primeiro sutiã como forma de protesto contra a opressão da sociedade patriarcal, o mercado de trabalho injusto com as mulheres e o padrão de beleza desumano imposto pela mídia. Se ela quiser fazer tudo isso um dia, tudo bem, mas tudo tem seu tempo. Quero que ela aprenda o que é o feminismo, como começou e o motivo de existir para que ela possa se armar e se defender de tudo o que existe e as mulheres ainda precisam lutar contra: violência, injustiças, abusos, idéias ultrapassadas e preconceitos de gênero. Quero que ela entenda que será livre para fazer e ser o quê e quem ela quiser. Quer ser dona de casa? Ok, você pode. Quer pilotar um avião? Ok, você pode também. Quer trabalhar e nunca ter filhos? Vá em frente. Quer se dividir entre um trabalho e uma casa com filhos e marido? Corra atrás disso, então. Quer se casar virgem? Opção sua. Acha melhor o sexo sem compromisso? Terá o meu apoio. Eu me sinto livre para ser o que eu quero e fazer o que eu quero. Quero que minha filha tenha essa liberdade também, mas que ela saiba que nada disso veio fácil e que, antes de nós, muitas mulheres batalharam por esses direitos.

Não será só isso, eu sei. Os filhos precisam aprender muito mais todos os dias e eu vou ensinar tudo a ela. Mas essas coisas, neste momento, são os ensinamentos que sonho em poder passar a ela. Não quero força-la a ser uma versão minha, mas quero poder ensinar coisas que eu sei e que me orgulho de saber. Quero que ela tenha com ela, mesmo que nunca use, as coisas que fazem parte de mim.

***
Trilha Sonora: Pine Moon - Feist.

domingo, 10 de março de 2013

Sobre o Medo da Morte

Eu nunca tive medo de morrer. Nunca mesmo.
Atravessava a rua na frente dos carros, obrigando-os a parar porque, conforme eu costumava argumentar quando minha mãe me chamava a atenção por isso "nenhum deles quer realmente me atropelar, então eles que parem o carro se não quiserem ir presos". Minha mãe ficava louca, dizia que um dia eu podia encontrar um que não ia conseguir parar. E eu seguia atravessando a rua sem olhar e sem esperar muito pelo sinal fechado.
Nunca gostei de médicos e hospitais, porque eu sempre fui da opinião que quem procura, acha. Então se eu não estou sentindo nada de estranho e nem estou com um pedaço do corpo pendurado, quase caindo, não há motivo para pânico e muito menos para marcar uma consulta médica e ouvir um estranho me dizer que estou me alimentando mal, que estou acima do peso e deveria me exercitar mais.
Remédios? Só em casos extremos, como a época em que eu tinha uma crise de gastrite por noite e só conseguia dormir sob efeito de diclofenaco (depois de vomitar com uma cápsula de omeprazol, tomar duas xícaras de chá de camomila e andar em círculos pelo quarto até me concentrar no cansaço das pernas e esquecer a dor no estômago).
Pensava em pular de pára-quedas um dia, andar balão e sair pelo mundo fazendo mochilão "clássico" (com carona e sem lugar certo pra dormir).
Não tinha medo de ficar doente, não tinha medo de assalto, não tinha medo de acidente, não tinha medo de nada.
Até que eu me tornei mãe. O medo da morte passou a ser uma coisa tão apavorante que agora eu não perco uma consulta médica, sigo ordens em benefício da minha saúde, como coisas que não gosto (mamão, eca!) para que meu corpo funcione melhor, olho para os dois lados antes de atravessar a rua e espero o sinal fechar e todos os carros estarem parados. Uso até faixa de pedestres agora, vejam que exemplo lindo!
O que acontece é que continuo não sentindo medo do que haverá do outro lado e se haverá um outro lado. Li uma vez que preocupar-se com a morte é inútil, porque se tiver algo para ver do outro lado, um dia veremos e se não tiver nada, nunca saberemos. Não me lembro quem disse isso, mas tomei como verdade e desde então eu não me importava com essas coisas.
Só que agora, saber que uma vida depende de mim, dos meus cuidados e do meu amor; que tenho uma criança que espero ver crescer e aprender o que é o mundo, que quero ensinar coisas a ela, que quero estar perto dela para sempre... Tudo isso mudou a forma como vejo a minha vida, mudou os meus medos, meus planos, meus desejos. O que houver do outro lado, haverá ou não. O que me preocupa mesmo é poder adiar essa descoberta o máximo que eu puder, ficar por aqui enquanto houver necessidade de uma mãe cuidando de uma filha, porque eu devo ser essa mãe. Não quero que essa responsabilidade seja passada a mais ninguém.
Se me perguntarem hoje se eu tenho medo da morte, vou responder o mesmo que respondi ao meu irmão ontem, quando ele me viu esperar a hora mais segura para atravessar a rua: depois que você tem um filho, você passa a cuidar melhor da sua vida.

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Trilha Sonora: Uma música na minha cabeça, mas não sei o nome dela e muito menos sei quem canta. Se eu descobrir, eu conto.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Do Que São Feitas as Memórias

Acordei hoje com a noticia da morte do Chorão. Dei um pulo na cama e vim para a sala ver se era mesmo o que eu tinha entendido. Meu irmão confirmou e então um filminho com lembranças de 15 anos atrás começou a passar na minha cabeça.
Eu gostava da banda, mas não era a maior fã dele, como uma amiga minha é, e ela foi a primeira pessoa que me veio na cabeça, ainda nos créditos desse filminho.
Passou um tempo, fiz outras coisas, cuidei da minha filha e agora há pouco, no banho, é que fui fazer a edição mental do tal filminho.
Começa em 1998, quando meu pai apareceu em casa com uma edição da Revista Jovem Pan. Era uma revista enooooorme, do tamanho de um jornal e trazia junto um CD com as mais tocadas da Pan. Entre a seleção de umas 10...15 músicas, tinha O Coro Vai Comê na faixa 2, de uma até então desconhecida banda chamada Charlie Brown Jr.
Esse CD rodou a mão de algumas amigas minhas, não por causa da tal faixa 2, mas de algumas outras músicas que agora não lembro mais, mas eram sucesso na época.
Passou mais um tempo e ouvimos mais da banda e viramos fãs porque, daquele jeito maloqueiro-skatista-calça-mostrando-a-bunda, as músicas eram divertidas e algumas até falavam de amor.
Acho que a identificação aconteceu justamente porque era esse o nosso perfil e, principalmente, era o perfil dos namorados e candidatos a namorados das minhas amigas e meus. Nunca subi em cima de um skate mas, por alguns anos, era um pré-requisito para um cara ser interessante: andar de skate. Namorei um. Minhas amigas namoraram outros. Cada uma de nós tem pelo menos uma história pra contar com esse tipo tão atemporal de homem.
Mas era do filminho que eu falava.
Fiquei pensando, o que faz de um momento banal, um momento digno de filminho?

Lembro perfeitamente, como se tivesse sido há poucos dias, de uma amiga minha descendo a rua da minha casa para ficar com um primo (skatista) de um namorado meu (skatista) e minhas outras amigas e eu ficando no portão de casa, olhando os dois se afastando enquanto vinha de dentro de casa o som alto, muito alto, de Proibida Pra Mim.

Não me esqueço também de um dia em que sem motivo nenhum, como ele sempre fazia, esse namorado da época me deu uma folha de sulfite com alguns desenhos aleatórios e uns versos de músicas que gostávamos. A cena é toda muito nítida pra mim: estávamos na calçada da minha casa, chegando da escola e, conforme um tipo de tradição que ele seguia, esperava até a despedida pra me dar os presentinhos quase diários. Combinamos de ficar à toa na rua mais tarde e, antes de dizer tchau, ele me deu a tal folha com os desenhos e os versos "Se não eu, quem vai fazer você feliz?" e um trecho de Presente de Um Beija-Flor que já não me lembro mais qual era.

Depois vem a cena daquela minha amiga apaixonada pela banda e, principalmente, pelo Chorão, me chamando para acompanhá-la numa aventura: teríamos que ir de Osasco até a Avenida Paulista de ônibus, numa época em que mal saíamos sozinhas, para vermos a banda em uma tarde de autógrafos que aconteceu na Rádio Mix, no famoso prédio de n° 900, o prédio da Gazeta. Ela se informou antes e acertamos o caminho, linhas de ônibus, pontos a descer e fomos. Deu tudo certo e, nesse "tudo certo" inclua uma fila de mais de 3 horas, rodando um quarteirão para conseguirmos entrar, trocar duas palavras com eles conseguir autógrafos enquanto eu ficava encarregada de tirar tantas fotos quantas fossem possíveis em coisa de 2 minutos. Voltamos pra casa com autógrafos, fotos, histórias pra contar e um sorriso de cansaço e satisfação no rosto.

No filminho entra também a cena da minha irmã e eu lendo o encarte do CD do Charlie Brown que meu pai deu de presente a ela, na sala da nossa casa, cantando as músicas e ouvindo no modo Repeat dezenas de vezes a música Te Levar. Sempre preferi as românticas.

E de tantas tardes vendo Malhação, uma em especial me marcou. Não me lembro o motivo, mas nos juntamos para ver um capítulo qualquer na minha casa: minha irmã, meu namorado, uma amiga nossa, minha mãe, o tio da nossa amiga e eu. A música de abertura era Te Levar e, como era sucesso na época, todos cantaram um pedacinho, bateram o pé ou batucaram ao som da abertura.

Tive muito mais momentos ao som de alguma música deles, mas esses, exatamente como descrevi, resolveram que ficariam eternos pra mim e eu sei que as outras pessoas envolvidas talvez nem se lembrem mais de nada disso. Mas eu me lembro e hoje, especificamente por causa da morte do Chorão, tudo isso  voltou e eu me pergunto, o que faz um momento ser eterno? O que facilita a memorização de uma coisa e de outra não, sendo tudo igualmente corriqueiro? Não falo de momentos "obrigatoriamente" importantes, como o primeiro beijo, nascimento do seu filho, morte de alguém querido, primeiro dia de aula... Falo dessas coisas bobas, facilmente esquecidas em alguns meses, mas que de vez em quando teimam em ficar gravadas sem motivo aparente.
No fim das contas, acho que a vida é feita disso apenas. Lembranças.
Como saber que este exato instante em que termino de escrever esse post ou você termina de ler, não ficarão eternizados naquele departamento de memórias que só interessam a nós mesmos? A diferença é o que significa para cada pessoa envolvida.

***
Sem links porque estou com preguiça de procurar. Depois eu volto e incluo tudo direito. Ou não.

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Trilha Sonora: Meu irmão, enlutado, ouvindo Charlie Brown Jr. que surgiu na minha vida 1 anos antes do nascimento dele.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Déjà Vu de Carnaval

Muda a data (1 ano e 10 dias de diferença), mas não muda o evento. Serpentinas, confetes, samba enredo e muita mágoa, com bastante mal estar, por favor. Embrulha pra viagem, sim? Obrigada.
Bom carnaval pra quem curte e tem mais sorte.

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Trilha Sonora: Déjà Vu - Pitty. Tocou aqui e fez muito sentido pra mim.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Resumo de Uma Vida

Estava vendo hoje cedo, num site de notícias aleatório, uma lista em ordem alfabética com todos os nomes dos jovens mortos no incêndio da boate. Ao lado de cada nome e foto, havia a idade e alguma informação que o jornal julgou ser relevante. Quase todos os perfis eram coisas como "fulano de tal, 22 anos, estudante de tal curso, trabalhava em tal lugar."
Fiquei pensando, como pode, de repente, 20 e poucos anos de história serem resumidos a duas linhas? E duas linhas falando justamente sobre uma coisa agora tão banal, quanto uma graduação ou um emprego de salário mínimo.
Quanta coisa ficou perdida ali, pra sempre, escondida nas duas linhas que ninguém nunca vai questionar ou escrever a respeito?
Qual era a cor preferida, qual era o maior sonho, como gostava de dormir, como preferia seu café, gostava de café? Quem era o amor da sua vida, seus amigos de infância, quem foi sua primeira professora? Encontrou o amor da sua vida? Viveu um grande amor ou uma grande desilusão? Tinha filhos, desejava ter, quantos queria? Um time de futebol, talvez? Gostava de futebol ou preferia video-game? Conhecia o mar? Tinha medo de altura? Levou consigo alguma mágoa boba que podia ter sido resolvida com um "tá perdoado" ou "me desculpa"? Como era sua letra? Quem ensinou a ler? Gostava de livros? Sabia cantar, dançar, pintar, desenhar, escrever poesias? Quem eram? Teríamos sido bons amigos se tivéssemos nos conhecido numa tarde qualquer, num ponto de ônibus, numa conversa sobre o clima instável? Se tivéssemos sido amigos, poderia ter sido eu também, ali?
Sim, poderia.
E o resumo da minha vida não caberia em duas linhas. Porque eu sou muito mais do que uma funcionária pública, ex-aluna desistente do curso de Letras, mãe de uma bebê, casada há poucos meses depois de anos de namoro. Tudo isso já é muita coisa e é muito mais do que isso tudo. Tem muito mais sobre mim que ninguém nunca saberá, saberia e se lembraria de perguntar.
Tem muito mais em cada um deles que ninguém nunca vai saber e nunca mais será. E podia ter sido qualquer um de nós, saindo de cena com tantas cenas ocultas e outras ensaiadas e nunca apresentadas.

***
Trilha Sonora: O meu silêncio tem sido raro.